8 de março de 2011

Mulheres que sorriam


Nesta data oficial de comemoração – Dia Internacional da Mulher – não pretendo discorrer sobre as conquistas, inúmeras e necessárias, que nós mulheres fizemos ao longo da história. Outros textos publicados na mídia farão isso por mim e com mais propriedade.
Claro que sou grata a todas que, de alguma forma, contribuíram para que hoje ocupássemos espaços que há poucos anos não nos eram de direito. Mas gostaria de aproveitar a data para lembrar que algumas mulheres simples e pouco instruídas podem ter importância crucial na formação, durante infância e juventude, daquelas que passam mais tarde a estar na linha de frente das lutas e vitórias em nossa sociedade. Assim foi com muitas de nós. Assim foi comigo.
Convivi, quando criança, com mulheres que sorriam. Lembro-me de uma foto de família: homens, mulheres e crianças. Eles carrancudos, sérios. Somente as mulheres sorrindo. Eram elas as responsáveis pelo cuidado, pelo afeto e pela alegria nos anos de minha infância. Minha avó, por exemplo, forte e acolhedora, era a representante maior da alegria. O sorriso sempre estampado no rosto. Vinham dela o entusiasmo e a vontade de viver que inspiravam a mim e a minhas irmãs, assim como eram dela as respostas que nos indicavam o caminho nos momentos de crise.
As mulheres de minha vida abriram mão de grande parte de seus sonhos para cuidarem de seus homens e filhos. Era assim que tinha que ser naquela época. Casar e ter filhos era o sonho da grande maioria das mulheres na década de 30, quando minha avó se casou aos 16 anos, e ainda era assim na década de 60, quando se casou minha mãe aos 19. O casamento, embora beneficiasse muito mais aos homens do que às mulheres, exigia delas um empenho maior do que deles. Incluía-se aí o abandono dos ideais pessoais e a dedicação total à maternidade, criação dos filhos e vida doméstica. Era a mulher – e ainda hoje é assim em muitos lares – que abria mão de boa parte de seu tempo para gerar, parir, amamentar, trocar fraldas, cuidar, contar histórias, brincar, alimentar, levar à escola, ajudar nos deveres de casa e administrar, mais tarde, as questões afetivas, o namoro, a instrução sexual etc etc... Este foi o papel de minha mãe, presença absoluta dentro de casa, enquanto meu pai provia o sustento do lar.
Mas não digo, com isso, que essas mulheres foram mártires. Assisti, na infância, também a cenas de dominação por parte da ala feminina, talvez o preço que cobravam pelo ato de doação. Meu pai, filho desta avozinha querida que tanto me encantava, mas que era extremamente controladora, depois de ter se casado com minha mãe e ter tido três filhas, que posteriomente lhe deram seis netas (um total de dez mulheres que, ele jura, sempre fizeram dele o que bem entendiam) tentou alertar meu marido sobre a enrascada em que estaria se metendo se juntasse seus trapinhos aos meus, mas não obteve êxito.
Embora fosse machista, conservador, educado para ser o chefe do lar e dar a última palavra, meu pai era minoria em casa e, no final das contas, segundo sua própria versão, sua vontade nunca prevaleceu. Foi assim que desistiu do casamento.
Com o tempo, cada uma de nós assumiu novos papéis como comandantes em seus respectivos lares, inclusive minha mãe, depois de se separar e arranjar novo companheiro.
Assim demos continuidade ao exercício de entrega e doação que aprendemos com as mulheres de nossas vidas. Eu, de minha parte, nunca me esqueci do sorriso: capacidade de sedução e encantamento que elas me ensinaram.

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