8 de março de 2011

Casamento entre gays: pensando em possibilidades

Converso com meus amigos gays e fico indignada com o fato de que, pelo ato do casamento, os heterossexuais têm acesso a benefícios e privilégios sociais básicos que um grande número de casais homossexuais, embora também contribuintes, não têm.
Por que? O que me dá direitos, como esposa, de ter acesso, por exemplo, ao plano de saúde de meu marido? A resposta é simples: meu direito está garantido pelo fato de ter assinado com ele um contrato que oficializa nossa relação. E por que aos gays não é permitida a legalização do casamento para que possam também usufruir deste e de outros benefícios?
Esta é uma questão religiosa? Creio que não, pois a cerimônia na igreja não é exigida para o casamento ser considerado legal. É a cerimônia civil que o torna oficial. Assim, são os tribunais e não as igrejas que devem decidir sobre a legalização do casamento entre gays.
Conservadores argumentam que essa união é incorreta porque o propósito do matrimônio é ter filhos. O próprio nome já diz: “matrimônio” está relacionado à maternidade. Implica em que uma das partes dessa união seja uma mulher, que ela procrie e que cuide dos filhos.
No século XII, na Idade Média, quando a igreja ainda não intervinha no casamento, sendo este um contrato entre senhores feudais como forma de enriquecimento e anexação de terras, a procriação já era considerada muitíssimo importante para selar tal união e garantir a defesa do patrimônio (vejam bem: a palavra é “patrimônio”, o que me faz pensar em poder do pai, sendo os filhos gerados pela mulher para empoderar o homem). Caso a mulher não procriasse, era devolvida à família ou ia para um convento.
Mais tarde, quando a igreja se envolveu na questão, também passou a defender a procriação como expressão máxima do casamento, pois somente com esta finalidade aceitava a prática sexual.
Ou seja, casamento envolve procriação e, portanto, só pode ocorrer entre homem e mulher.
Mas, seguindo este raciocínio, a união entre um homem e uma mulher em que um dos dois ou ambos sejam estéreis, não poderia ser aceita. O casamento entre pessoas em idade pós-menopausa também não teria sentido. Outro fato é que, atualmente, inúmeras mulheres escolhem não ter filhos e casais heterossexuais entram em acordo sobre isso, o que não impede que desfrutem de outros aspectos proporcionados pela união conjugal, como o companheirismo, a cumplicidade e a realização de sonhos em comum.
Esta polêmica envolve ainda o direito de casais homossexuais à adoção de filhos.
Centenas de entidades científicas e sociais endossam o casamento gay e a adoção gay.
Sobre isto, estudos desenvolvidos em Psicologia e áreas afins comprovam que o fato de uma criança ser educada por pessoas homossexuais não interfere de forma negativa na formação de seu caráter ou em sua sexualidade. O acolhimento do lar, os valores morais, a disciplina e os cuidados que toda criança deve receber para que seja pleno seu desenvolvimento físico, mental e psíquico podem ser oferecidos por pais e mães homossexuais, tanto quanto por heteros.
Por fim, religiosos afirmam que o casamento entre duas mulheres ou entre dois homens, pela impossibilidade da procriação e pela expressão diferenciada de sexualidade, não seria uma união “natural”. Mas qual seria o conceito de “natural”?
O ser humano não é natural, se entendemos por natureza uma essência original que nos faria a todos iguais e programados para certos comportamentos. Não temos natureza, temos história! Somos o resultado de uma época, classe social, etnia, religiosidade, relações sociais, emoções, que interagem de forma permanentemente dinâmica, resultando na individualidade e especificidades de cada um de nós.
O desejo sexual não é natural, pois não se constitui apenas de instinto, mas de preferências e identificações. Animais não desejam, apenas estão programados biologicamente para acasalar e procriar.
O amor e a paixão, que levam ao casamento e à formação familiar, não são da ordem do “natural”. Embora tenham sim aspectos biológicos, envolvem cultura e experiências de vida.
Aliás, o casamento não é natural, é uma instituição, um “negócio” criado para atender a necessidades sociais que, em sua origem, nada tinham a ver com amor e desejo.
E por sermos assim, por sermos mais que naturais, somos abertos a todas as possibilidades de expressão, inclusive ao desejo, amor ou casamento entre pessoas do mesmo sexo.

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