14 de março de 2011

DIANTE DA DOR DOS OUTROS, A IMPOTÊNCIA


Que fazer com as informações que nos chegam pela TV sobre o terremoto e o tsunami no Japão na última semana? Que fazer diante das imagens de um sofrimento distante?

Muitas vezes temos dificuldades de lidar com os sofrimentos de pessoas que nos são próximas. E isso é frustrante. Mas quando aqueles que sofrem estão do outro lado do mundo, o sentimento de impotência pode ser ainda maior.
Por mais que essas situações possam despertar sentimentos de identificação e solidariedade, não é tão fácil pensar sobre suas provações, entender como se sentem.

Penso nas palavras de Susan Sontag no livro Diante da dor dos outros (2003), que reflete sobre as atrocidades das guerras e sobre como as imagens transmitidas pela mídia podem, por um lado, nos sensibilizar e, por outro, nos anestesiar, como se fossemos levados a um estágio de torpor, a um embotamento de sentimentos frente às dores do mundo, que se tornaram tão corriqueiras e banalizadas que mais parecem um espetáculo e não realidade de fato. “É como se ela (a realidade) de fato não existisse, como se o sofrimento estivesse sendo exagerado. Consumidores de notícias podem se tornar insensíveis ao sofrimento alheio”, escreve Susan.

Algumas pessoas farão qualquer coisa a fim de não se comover frente às imagens e sons que invadem sua sala de estar. Podem até mesmo mudar de canal. Ou podem sentir que, afinal, “não há nada que se possa fazer” e que “a vida continua”. Mas nem sempre essa posição se deve à falta de solidariedade ou ao individualismo que se tornaram comuns nas sociedades modernas. O fato é que somos mesmo impotentes e admitir isso também nos faz sofrer. Susan aponta que até mesmo o sentimento de compaixão que é despertado nessas ocasiões é uma emoção instável. Quando não é traduzida em ações, pode levar a uma apatia e uma anestesia moral ou emocional.

Imagens de sofrimentos podem nos enrijecer, nos tornar mais insensíveis, pois já nos acostumamos a contemplar as dores alheias como fatos corriqueiros. A violência, os crimes passionais, os assaltos, a fome, a pobreza, as guerras, a agressividade extrema e o estresse das grandes cidades fazem parte da vida que levamos. Assim como as ameaças ao planeta conseqüentes de um desenvolvimento não sustentável ao qual chamamos progresso. Aprendemos a nos tornar passivos diante de tudo isso.

O que fazer então, quando se trata de uma catástrofe que não depende da ação humana? O Japão, com toda a tecnologia e conhecimento desenvolvidos, não pôde prever uma catástrofe como esta simplesmente porque era imprevisível. A humanidade, por mais avanços científicos que tenha conquistado, nada pode fazer para evitar certos fenômenos naturais. Nesses momentos, mais do que nunca, nos damos conta de nossa fraqueza. Reconhecemos a existência do inevitável e do incorrigível. Admitimos que não controlamos tudo. E, neste caso, seria até melhor não estarmos comovidos.

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