22 de setembro de 2009

Saudade


Recado de André no orkut: "Aninha, deu um saudadão tão grande de você agora, cheguei a visitar alguns momentos nossos lá no passado!"
Saudade é melancolia que surge da lembrança. É dor de estar só depois da separação. Quem sofre é quem vai? É quem fica? A palavra vem do latim, "solitas, solitatis", solidão. Parece ter surgido na época dos descobrimentos e expedições marítimas lusitanas, quando os portugueses precisavam expressar o que sentiam longe de suas raizes.
Você se lembra, André, quando eu te disse que nem o mais demorado abraço esgotaria esse vazio que você deixava em mim? Eu sentia saudade de ti até quando estávamos juntos. Quanto mais presente, mais medo de te perder. Quanto mais ausente, mais presente na saudade.

14 de setembro de 2009

Depois do parto, as boas sementes




Rosa Luxemburgo queria produzir filhos e não somente idéias. Não conseguiu. Eu fiz filhos e gosto de gerar idéias. Por isso escrevo. No final, o processo é o mesmo. Sentir crescer em nosso interior, dar forma, alimentar, cuidar... e depois deixar ir.
Parir é aprender sobre partir.
Terminada minha pesquisa, volto pra casa. Mas ao deixar os amigos kaiowá percebo que fiz parte de sua história, como fizeram parte da minha. Construímos juntos, à sombra das mangueiras e ao sabor do terere, uma narrativa sobre suas lembranças e seus anseios.
Ouvi dos antigos como aconteciam os rituais do passado e ouvi dos jovens seus sonhos para o futuro. Compreendi que desejam entender o modo de pensar do não-índio e conquistar seu lugar como cidadãos brasileiros, sendo reconhecidos em sua singularidade étnica.
Ouvi das mulheres como se mantêm guardiãs do saber tradicional de seu povo enquanto os maridos estão fora, trabalhando nas usinas ou fazendas. São elas que rezam, contam os mitos, fazem chover, trazem de volta quem se foi, curam doenças, organizam guaxire, cantam e dançam nas noites de festa e mantêm vivos os fundamentos de sua cultura. Cuidam das roças, saem para vender o excedente, acendem o fogo, alimentam os filhos, trabalham como domésticas nas casas da vila, estudam, tornam-se professoras e agentes de saúde e atuam politicamente pelos direitos de sua comunidade.
Ouvi líderes e rezadores que temem perder, ao longo do caminho, as últimas sementes do conhecimento sagrado deixado pelos antepassados. Acreditam que essas sementes, se caírem sobre terra fértil, poderão germinar, crescer, enraizar e frutificar, sustentando, como grandes árvores, aos jovens de hoje. Se, no entanto, caindo em solo árido, as sementes não vingarem, morre com elas a cultura kaiowá.
Em minha pesquisa, também recebi as “boas sementes”, pois, ao escrever sobre o que vi e ouvi, ao falar sobre identidade e metamorfose, coloquei em jogo minha subjetividade e aprendi sobre minha própria humanidade.