25 de maio de 2009

Algumas pessoas dançam (Para Lara, pelos 20 anos... pelos gestos...pela dança)


Algumas pessoas chegam cedo. Vêm antes para adiantar o encontro.
Chegam antes para iluminar a manhã cinzenta e colorir o dia triste.
Vêm antes, porque não podem gastar à toa a vida que lhes foi dada de presente. Vêm antes que os anjos mudem os planos e desistam de deixá-las partir. Aceitam a vertigem da queda, o medo do novo, os riscos do desejo.
Aceitam as dores do parto. Nascer dói. Parir dói. Partir dói.
Algumas pessoas encarnam os gestos, e por eles são usadas, sem dono e sem pressa. São como folhas levadas pelo vento. Vez em quando caem no seu quintal, ou tocam seu rosto, ou enrolam-se no seu cabelo. Surpreendem, alteram a perspectiva, mudam os planos.
Algumas pessoas dançam. São leves e insustentáveis e por isso dançam. E dançando, imortalizam os gestos. Porque conhecem o segredo: não somos nós que materializamos os gestos. São eles que nos possuem e a tudo fazem renascer em cada novo ato humano. As palavras que já não ouvimos e o cheiro que acaba, a música que cessa e as lembranças que se perdem, tudo... tudo renasce nos gestos.
Algumas pessoas brincam com o tempo. Atravessam os anos. Superam as horas. Transcendem as marcas, as rugas, as paisagens, as bagagens, as passagens, os erros, as mágoas, as lágrimas, os lamentos, as vaidades, os vazios e tudo o mais que será esquecido.
Algumas pessoas são eternas... porque chegam sem avisar, porque insistem em ficar, porque não se contentam em caminhar. Elas dançam.

8 de maio de 2009

Tekoha