28 de fevereiro de 2011

Inocentados assassinos do índio Marcos Verón

Após cinco dias de julgamento e várias manifestações de líderes indígenas e militantes em frente ao tribunal, os acusados de matar o cacique kaiowá Marcos Verón são absolvidos por júri popular. O julgamento que encerrou-se na última sexta feira, 26 de fevereiro, em São Paulo, chama a atenção de várias organizações de defesa dos direitos humanos.
Verón foi morto aos 72 anos, em 2003, em Juti, Mato Grosso do Sul, após Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde espancarem e atirarem em índios que haviam invadido fazenda, na luta para reaver seus territórios. Verón foi levado ao hospital com traumatismo craniano, mas não resistiu.
O julgamento, que começou no MS, mas foi transferido a SP porque a promotoria considerou que não havia como garantir um processo imparcial na primeira corte, chegou a ser suspenso várias vezes por apelações dos réus, que tentaram adiar ao máximo a audiência final.
A decisão acolheu parcialmente as alegações do Ministério Público Federal, mas não reconheceu o crime de homicídio praticado contra Verón e a tentativa de homicídio contra mais seis líderes que estavam com ele e que neste julgamento foram ouvidos pelo júri.
Por que os acusados não foram condenados? Por que não podemos acreditar na Justiça? É difícil compreender ou aceitar este resultado. Mas como já acompanhamos outros casos e sabemos que no Brasil assassinos de índios não são condenados, resta apenas a indignação e a tristeza. Não somente por este caso, mas porque este abre mais um precedente para tantos outros assassinatos de lideranças indígenas que ocorrem no Mato Grosso do Sul e em outros Estados e que poderão ficar impunes.
Livres da acusação de homicídio, os acusados foram condenados apenas por seqüestro, formação de quadrilha armada e tortura. A pena estipulada pela juíza da 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Paula Mantovani, é de 12 anos e três meses de prisão. Mas poderão cumprir em liberdade pelo fato de já terem permanecido presos durante quatro anos e seis meses, enquanto aguardavam o julgamento. Neste caso, o tempo de prisão é descontado na sentença.
O promotor Luiz Carlos Gonçalves disse que a vitória não é completa, mas o resultado final foi pelo menos um avanço na luta pelos direitos dos índios. Segundo ele, o próximo passo é lutar pela condenação do fazendeiro Jacinto Honório da Silva Filho, dono da fazenda em que ocorreram os crimes e acusado de ter encomendado o assassinato de Verón.
Difícil acreditar que essa condenação possa de fato acontecer.

25 de fevereiro de 2011

O amor é uma coisa, a vida é outra

Peço licença a Miguel Esteves Cardoso, autor deste texto lindíssimo. E agradeço a Clarah Averbuck, por postá-lo em seu blog. Mais uma vez ela me socorre, sem nem mesmo saber disso. Primeiro com Bolas, depois na leitura de seus livros. Agora, com essas palavras... nada tenho a declarar, apenas reiterar esta afirmação tão sábia: o amor é uma coisa, a vida é outra. A vida, com suas repetições, desilusões e enganos... A vida com suas urgências, seus tempos, seus relógios... A vida com seus encontros, paixões e promessas... Ah! O amor é outra coisa.

Elogio ao Amor
Miguel Esteves Cardoso
 
Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá tudo bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, atristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”.
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não épara nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes.
Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá paraperceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.
A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Nise Palhares: voz inconfundível nas noites cariocas

Vi outro dia, no YouTube, a cantora carioca Nise Palhares interpretando música do Nirvana, Smells Like Teen Spirit. Coisa linda! Voz quente e forte. Gestual e expressividade singulares. Era Nise cantando e não outra. Interpretação absolutamente original.

Embora dividisse o palco naquele momento com outra cantora – creio que não era um show seu, apenas fazia uma participação pra lá de especial –, sua presença preencheu todos os cantos daquele bar. Com Nise é assim, não tem pra ninguém.
Está na mídia eletrônica, projetou-se no Reality Show Ídolos, da TV Record, em 2010, já é bastante conhecida do público que freqüenta as casas noturnas cariocas e tem se apresentado também fora do Rio, em shows em São Paulo e em outras cidades pelo país afora. Apesar disso, Nise Palhares não tem CD gravado ainda. Mas é apenas questão de tempo. Como afirmou o jurado Luiz Calainho, durante apresentações do Ídolos, “estamos testemunhando o nascimento de uma artista absolutamente impressionante”. Impossível ficar imune a tal fenômeno. Impossível produtores e gravadoras não perceberem em Nise a promessa certa de sucesso.
Em suas apresentações, ela leva o público ao delírio. Não há como não ser hipnotizado por seu jeito vigoroso e, ao mesmo tempo, doce de cantar. Tem canções de autoria própria e interpreta desde os sucessos românticos da MPB (como comprovam os vários vídeos postados pelos fãs no YouTube) até os clássicos do Rock’n Roll. Com seus dez anos de estrada, percorrendo os tortuosos caminhos da arte e vencendo os obstáculos comuns aos que vivem de música, Nise tornou-se boa demais no que faz e já pode dispensar os rótulos e as comparações.
Embora seu timbre seja grave, não imita Betânia, não canta como Ana Carolina, não se parece com Cássia Eller. Nise é somente Nise. Autêntica e irreverente no palco, tem precisão rítmica, bom gosto nas escolhas do repertório e talento ao imprimir seu estilo nas interpretações. Ouvir sua voz inconfundível (negróide como das cantoras Sarah Vaughan e Nina Simone, e rouca como de Janis Joplin) é como estar próximo a um vulcão que, a qualquer momento, pode entrar em erupção. Força, densidade e paixão transbordam dessa mulher que preserva, no entanto, um jeito moleca de rir e falar, a docilidade de uma garotinha. Além do bom humor e do carisma que cativam o público.  
É isso, caros leitores, estamos assistindo ao nascimento de uma estrela. Digo isso sem exageros. Nise Palhares é desses poucos artistas que ultrapassam os limites, transcendem. Ela veio pra ficar.


24 de fevereiro de 2011

Assassinos do cacique Marcos Veron são julgados


O reinício do julgamento dos assassinos do cacique guarani Marcos Veron, na última segunda feira, 21 de fevereiro, em São Paulo, teve grande repercussão na mídia, inclusive no Jornal Nacional, na Rede Globo, o que muito nos surpreende.
Não é comum que assassinatos de índios, que ocorrem frequentemente em várias partes do país, sejam destacados pela imprensa.
Aliás, não é comum que matadores de índios sejam julgados. Exemplo disso é a impunidade dos assassinos de Marçal de Souza, líder guarani morto há 28 anos. O mandante do crime tem nome e endereço certos, há provas suficientes contra ele, no entanto ele está livre até hoje.
Cerca de 40 indígenas Guarani Kaiowa vieram de Dourados, Mato Grosso do Sul, para acompanhar o julgamento que foi deslocado para São Paulo porque acredita-se que somente assim será garantida a isenção necessária, já que no MS, onde o crime ocorreu, aqueles que detêm o poder econômico e político poderiam tentar influenciar a justiça.
Este julgamento, que esperamos terminar na condenação dos assassinos que negam o crime, evidencia a história de sangue e sofrimento que marca a vida dos índios Guarani Kaiowá desde sempre. A razão é conhecida de todos nós: a luta pela terra.
Três filhas do cacique morto, netos e outros parentes e amigos estão presentes. Egon Heck, presidente do Cimi Regional MS, que está acompanhando o julgamento, escreveu em artigo que “eles vêm da terra em que se exalta um tipo de progresso e desenvolvimento através do agronegócio, concentrador e excludente, da monocultura e dos transgênicos, do agrotóxico, de profundo impacto na natureza e poluição das águas e da terra. Eles vêm do território Guarani, dos índios sem terra, dos acampamentos e confinamentos deste povo. Eles vêm do sofrimento, da fome, da injustiça e da impunidade. Vêm apenas pedir justiça e, do alto de sua heróica resistência e dignidade, pedir punição”.
Este é um acontecimento histórico. Que resulte em justiça e paz para os Guarani Kaiowá!

23 de fevereiro de 2011

Mar, a grande mãe

Amo o mar. Minha avó, com quem compartilhei momentos mágicos na infância, nos finais de semana na praia, no litoral sul de SP, ensinou-me a reverenciar o mar como uma entidade suprema.
Nas tardes alaranjadas banhadas pelas ondas e encantadas pelos sons das gaivotas, aprendi a pedir licença antes de molhar meus pés na água cristalina e a deixar que a energia do mar, sua força e seus movimentos embalassem todo meu ser.
No mar meus pensamentos se organizavam, minha alma era tranqüilizada e meu corpo ganhava ânimo para prosseguir meu caminho. Minha avó conversava com ele. Ainda hoje, quando preciso de respostas, é ao mar que pergunto e ele sempre me responde.
Nesta busca, encontro Deus, esta Realidade, este Sentido capaz de me envolver e completar. Como ser incompleto e inacabado, a procura de acabamento e completude, encontro no mar esse todo do qual sou parte.
Por isso, embora o mar seja convencionalmente substantivo do gênero masculino, sinto que há em sua essência toda a feminilidade expressiva da origem da vida. 
Ns oceanos, com as condições ecológicas favoráveis à formação dos primeiros seres vivos, aconteceram e ainda acontecem 90% da história da vida.
No livro Feminino e Masculino, uma nova consciência para o encontro das diferenças, que Leonardo Boff escreve em parceria com Rose Marie Muraro (Ed. Sextante, 2002), ele salienta que o antepassado comum de todos os seres vivos foi, provavelmente, uma bactéria desenvolvida nos mares, procarionte, organismo unicelular sem núcleo e com organização interna rudimentar. Colônias dessas bactérias estiveram sozinhas por quase dois bilhões de anos nos mares. Ainda não existiam órgãos sexuais específicos e sim uma existência feminina generalizada que no grande útero dos oceanos, lagos e rios produzia vidas. Somente em função da reprodução em terra, de seres complexos, surgiu o pênis, há duzentos milhões de anos, na época dos répteis.
Com o evoluir das espécies que deixaram os oceanos e ganharam terra firme, lentamente, as condições presentes nos mares, com todos os seus nutrientes, no caso humano, passaram ao corpo da mulher. A menstruação recorda ainda o ritmo lunar, um dos fatores que provocam as marés.
O livro Nascido no mar, de Chris Griscon (Ed. Siciliano, 1993), conta a experiência de um parto ocorrido no mar do Caribe. Lembro que, ao comentar sobre esse livro com Ângela, obstetriz que acompanhou meus partos, ela ressaltou a semelhança entre a composição química das águas do mar e do líquido amniótico do ventre da mãe. Seria o mar uma entidade maternal? Então era isso que minha avó tentava me mostrar, que o mar é feminino?
O mar é a grande mãe: o primado do feminino na geração e expansão da vida ancestral.

21 de fevereiro de 2011

Lideranças Guarani Kaiowá pedem Justiça, Terra e Vida

No ano passado uma delegação de lideranças Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, esteve em São Paulo pedindo apoio aos movimentos sociais no caso do assassinato do cacique Marcos Verón e na questão da luta pela demarcação de suas terras, situação que vem gerando violência, explusão de famílias de suas moradias e despejos. Foi em confronto como esses que morreu o líder Marcos Veron. Conheço e estimo sua família, suas filhas, víuva, netos, que neste momento estão vindo a São Paulo para acompanhar de perto o julgamento dos assassinos, que será retomado hoje, 21 de fevereiro. A eles, meu mais profundo desejo de que a justiça seja feita. 

Segue abaixo a Carta das Lideranças Indígenas aos Movimentos Sociais de São Paulo:

 

Viemos do Mato Grosso do Sul a São Paulo, em maio de 2010, na luta por nossos direitos, buscando apoios e aliados, esclarecendo a dramática situação por que passam os mais de 40 mil Kaiowá Guarani, espremidos em menos de 40 mil hectares de terra e jogados às beiras das estradas em 22 acampamentos indígenas. Estamos cada vez mais sendo engolidos pela cana, soja e gado. O nosso direito que foi conquistado na Constituição de 1988, não está sendo cumprido.

Várias usinas de etanol estão em construção, sendo previsto um total de 60 novas usinas, a serem construídas nos próximos anos, em cima de nossos territórios. Tudo isso põem em perigo a nossa sobrevivência como povo Guarani, caso não sejam tomadas as providências imediatas de reconhecimento de nossos territórios.
A situação de violência a que estamos submetidos e que acontecem em nossas aldeias é considerada superior ao que acontece nas grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo e mesmo nas áreas de guerra, como Iraque e outroslugares de conflitos abertos, pelo mundo afora.
Sabemos que essa situação só vai melhorar com a nossa efetiva luta e apoio dos aliados e amigos no Brasil e pelo mundo afora. É por isso que estamos aqui em São Paulo nesses dias.
Viemos reivindicar e exigir das autoridades responsáveis:
1. A urgente conclusão da identificação e demarcação de todas as terras Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul;
2. Que dentro dos próximos 80 dias, a FUNAI tome providências necessárias para o reconhecimento e permanência da comunidade Kurusu Ambá em suas terras, ressaltando que o grupo de trabalho de identificação da FUNAI está paralisado;
3. Que ocorra a punição dos responsáveis pelos assassinatos de todos os Guarani Kaiowá, nos últimos anos, na luta por seus direitos;
4. Queremos o julgamento imediato, dos acusados do assassinato da liderança Guarani Marcos Verón;
5. Queremos o empenho da Polícia Federal para a localização do corpo do professor Olindo Vera, desaparecido há mais de 6 meses e a punição dos assassinos do professor Genivaldo Vera;
6. O julgamento imediato da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, pelo Supremo Tribunal Federal;
7. Urgente solução para a dramática situação em que se encontra a comunidade Laranjeira Nhanderu, despejada na beira da BR-163, em setembro de 2009, encontrando-se em situação de estrema insalubridade, violência e miséria.
“Somos os verdadeiros donos desta terra.
Acabou a nossa paciência, o que nos
resta é a nossa união e mobilização
na luta pelos nossos direitos e apoio de todos.”

Lideranças das comunidades Kaiowá Guarani, do Mato Grosso do Sul: Kurusu Ambá, Ypo´í, Laranjeira Nhanderu, Taquara, Nhanderu Marangatu
São Paulo, 7 de maio de 2010.

18 de fevereiro de 2011

Mais fragmentos: Paixão e medo

Peço licença a Paulinho Moska, por publicar aqui sua letra, de autoria junto com Nilo Romero, creio eu. Não é que eu não possa falar desse medo e dessa paixão com minhas próprias palavras, mas é que estou voltando ao computer, depois de longo silêncio, ainda sem jeito, ainda sem tom, no meio dessas linhas que penso e que podiam ser quaisquer outras, mas são essas. No momento ouço repetidamente essa canção e me vejo perdida nessa dívida que já não se paga, e o relógio na parede sempre a me contemplar (Cara, eu não tinha me dado conta... meu pai sempre me deu relógios de presente, desde criança! Aniversários vários. Outras datas sem importância. Inclusive agora, em 2010, adivinha o que ganhei no meu niver???). Não vejo a porta. Pra que lado fica a saída? Cegueira como naquela noite na fazenda em Minas, em que faltou luz e eu, com medo do escuro, acabei com todos os fósforos da cozinha. Lembro-me daquela escuridão sem estrelas, sem lua, sem lanterna, sem velas. Ah, façamos um acordo: devolve já minhas pernas, que eu te dou seus olhos de volta. Combinado? Enquanto pensa, ouça Paulinho Moska:


"O que fazer com nosso amor

Se já te devo tanto?
O que fazer com nosso amor?
Você me deve mais
Se nossas contas se perderam
Pois já não se pagam
Se nossas noites de amor
Não acordam mais ninguém
O que fazer com nosso amor
Se agora falamos pouco?
E o relógio da cozinha a nos contemplar
A qualquer momento as paredes vão ruir
E nada, nada vai sobrar inteiro por aqui
Quem será o último a sair?
A porta está aberta, mas não consigo enxergar
Eu sei que também queres partir
O chão está tão perto, mas não consegues caminhar
O que fazer com nosso amor
Se andas com minhas pernas?
O que fazer com nosso amor
Se vejo com teus olhos?
Um mundo louco e tenso de paixão e medo
Dorme, Amor, nos meus braços
Como se eu fosse o primeiro."