1 de março de 2009

Meus heróis


O mal do século é a solidão. “Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição”, já dizia Renato Russo.
Acho que de solidão ele entendia. Morreu sozinho em seu apartamento, sem despedidas, sem velório, sem enterro. Foi cremado. Não queria uma multidão chorando em cima do caixão. Com ele morreu também a Legião, porque continuar na estrada simplesmente não faria sentido.
Sinto falta da época em que suas canções embalavam meus sonhos. Não só os meus, mas os de toda a geração Coca-Cola de 80. Renato era referência de atitude, porta-voz das nossas angústias, poeta que encontrava as palavras pra dizer por nós, os filhos da revolução, burgueses sem religião. Éramos tão perdidos! Ecoava ainda em nossos ouvidos os ruídos da ditadura, mas não tínhamos aprendido o que fazer com a liberdade. E o futuro parecia tão incerto! Ao som da Legião, fumei o primeiro cigarro, transei a primeira vez, tomei o primeiro porre, curti a primeira ressaca de paixão não correspondida.
Na mesma época amava Cazuza, exageradamente transgressor. Eu morria de inveja porque me faltava coragem pra assumir essa falta de normalidade que hoje eu já não consigo disfarçar.
Ou não. Acho até que sou bem normal. A pessoa mais normal desse planeta. Louco é quem me diz. Louco era Raul, com muito orgulho.
Depois me apaixonei por Cássia. Tive orgasmos múltiplos quando a ouvi pela primeira vez cantando música de Renato Russo. Então a fiz minha musa, a mulher dos meus sonhos. Nos meus 20 anos, o que eu mais queria era ser a Cássia Eller. Ir até o talo. Ver no que vai dar.
É isso, meus heróis morreram de overdose, ou de exageros, ou de solidão.

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