23 de janeiro de 2009

Sobre alteridade


No ano passado respondi à artigo de um jornal diário, que publicou acusações de um líder religioso aos homossexuais. Dizia ele que a Aids é “castigo divino”,que os gays são responsáveis por tornar nossa “sociedade doente”.
Observei que seu raciocínio baseava-se em uma estratégia finalista de interpretação, buscando confirmações para a sua “verdade” previamente defendida.
Não raramente podemos descobrir o outro em nós mesmos, como uma instância de nossa configuração psíquica. O conceito-chave que permite esta análise é a “projeção” de conteúdos inconscientes, que, segundo a psicologia analítica de Carl Gustav Jung, é um mecanismo intrínseco da psique humana. Tudo o que é inconsciente em nós mesmos podemos projetar de forma defensiva em um objeto externo.
Este fato ocorre de modo involuntário, sem interferências da mente consciente. Assim, um conteúdo inconsciente, geralmente assustador ou obscuro para mim, aparece como se pertencesse ao outro, funcionando como espelho que reflete minha própria natureza psíquica.
A projeção pode interferir na compreensão da realidade e percepção, colocando-nos uma questão ética: quem é o outro? Como posso vê-lo em sua plenitude senão a partir do que sou eu mesmo? Será que só vejo pedaços de mim refletidos em outras pessoas no momento em que acredito estar vendo seus verdadeiros rostos? Se há uma conexão entre quem percebe e aquilo que é percebido, como ter certeza de que se está apto para fazer o julgamento de outros? Ou em que medida a rejeição a outras formas de enxergar o mundo e outros comportamentos não reflete apenas nossa incapacidade de lidar com nossas próprias fraquezas ou, na linguagem religiosa, com nossos próprios “pecados”?
No momento em que tomamos consciência de uma projeção, finda a ilusão e somos obrigados a carregar nas costas tudo o que não suportamos nos outros.
Este reconhecimento e respeito às diferenças possibilita a criação de uma energia social que contribui para a cura de várias “doenças sociais”, inclusive o preconceito.
O remédio para essa enfermidade é a alteridade, que é a capacidade de aceitar e compreender o outro em sua singularidade, ou seja, “amar ao próximo como a si mesmo” como pregou Jesus Cristo.

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