26 de março de 2009

Fragmentos de um discurso amoroso IV - Ausência


Todos os dias você partiu.
Pensei que havia me acostumado a essa falta.
Achei que a ausência já não me doía.
Achei que a vida era assim mesmo: esse vazio, essa saudade.
Acostumei-me à despedida,
ao silêncio que restava na sala,
ao escuro que assombrava os corredores,
aos cabides vazios no guarda-roupa,
à louça suja em cima da pia,
à toalha molhada no banheiro,
ao frio rasgado nos cobertores,
e ao teu cheiro no travesseiro
que me atormenta na madrugada.

Por que não levou contigo
este cheiro?
Por que não carregou na mala
meu coração cheio de música?
Por que não levou meus olhos
pra seguirem teus passos e trazerem de volta
teu riso perdido naquela tarde?
Por que não olhou pra trás
quando acenei e congelei meu rosto
no retrovisor da tua história?

Nenhum comentário:

Postar um comentário