27 de junho de 2008

O tempo, não o do relógio


Minha filha, quando tinha oito anos, chegou da escola contando sobre a aula de Ciências: "Mãe, estou estudando o tempo. Mas não é o tempo do relógio. É o tempo da vida".
Tempo que não se mede em números, horas ou minutos. Não cabe no passado, nem na imprevisibilidade do futuro. É tempo que soma experiências, que tira e acrescenta, divide e junta pedaços de história, marcando corpo e alma nas coisas que criamos e até no vazio deixado pelo que não fizemos.
Para a razão humana, o passado, o presente e o futuro estariam separados. Mas o coração avista o horizonte existencial, compreendendo estes três sentidos que se influenciam mutuamente. O passado não é imutável, podendo ser ressignificado no presente. E o futuro, embora ainda não exista, já transforma o hoje com projetos e esperanças. Assim, a vivência individual, no sentido de sua trajetória, modifica a significação do tempo. Como água de rio que não pára, antes corre infinitamente - para onde? - assim é o tempo da vida, impreciso e grandioso, que não cabe no relógio.
Sendo uma criação humana para superar a impermanência e negar a morte, o tempo é a explicação que damos ao mundo, na busca de identidade e liberdade.
Naquela tarde, senti alegria ao ser iluminada pela reflexão inocente de minha menina, quando eu mesma estava às voltas com as dificuldades de organizar meu tempo - o do relógio – e sua tranqüilidade de criança me ensinava a deixar que o coração me dissesse para onde ir.
Lembrei-me do dia em que nasceu: foi quando o tempo parou. Senti saudades de seu cheiro de bebê, de quando a amamentava, do colo que lhe dei e do que não pude lhe dar. Senti vontade de estarmos mais juntas, de nos abraçarmos muito, de dormirmos agarradas, como se assim eu pudesse reter a beleza de cada instante.

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