29 de abril de 2009

Fragmentos de um discurso amoroso V – seu aniversário


Antes de te encontrar, todos os dias te esperei.
Esperei pelo beijo em frente à estação. Esperei pelo sorriso de menino. Esperei que me perguntasse se havia lugar em meu castelo. Esperei que entrasse, que ficasse. Esperei que me desejasse, porque “de desejo somos” diz Galeano. E que me mostrasse uma perspectiva, uma avenida, uma ave, como no poema de Maiakovski. Esperei pela utopia. E pela ternura, e pela vontade forte de mudar o mundo.
Eu já sabia que juntos ouviríamos o mar, caminharíamos no deserto, abraçaríamos árvores, correríamos em campos de girassóis, contemplaríamos o por do sol, contaríamos estrelas, passearíamos de mãos dadas entre os edifícios das cidades de pedra, amaríamos pessoas, faríamos amor e filhos, plantaríamos flores, colheríamos conchas, riríamos das imperfeições e nos divertiríamos fazendo tudo de novo... mais novo, mais poesia, mais imperfeito, mais longe...
E de olhos fechados o criei em meu mundo. E coloquei nossos retratos na parede. E guardei suas memórias e histórias. E o vi dormindo na rede, como índio, sonhando comigo. E fiz minhas suas palavras, e ouvi o som do sim, música bonita, infinita...
Então hoje, quando acordei, olhei para o relógio e ele parecia se mover ao contrário, trocando de tempo e de idéias, como se me dissesse que o absurdo da existência é chegar ao fim. E que este presente não acaba nunca.

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