24 de janeiro de 2011

O delicado da vida

Clarice, Cazuza, Cássia... me aceitem no clube dos desesperançados. Da inquietude extrema. Do gosto pelo inesperado. Da aceitação de que a vida é, de certa forma, áspera. Mas entendam: a desesperança aqui não é angústia ou falta de sentidos. É atitude de nada esperar, não idealizar nada, aceitar a realidade como é, conviver com o novo e com as diferenças, estar aberta a todas as possibilidades. 

Sou inquieta, áspera
E desesperançada
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha
Feito farpa
Se tanto amor dentro de mim
Eu tenho, mas no entanto
Continuo inquieta
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É o inesperado
Mas eu sei
Que vou ter paz antes da morte
Que vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida
Clarice Lispector

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