16 de junho de 2009

Fragmentos de um discurso amoroso VII - TE ENGAVETEI


Te engavetei. Do verbo engavetar, meter em gaveta. Na intimidade da palavra: do latim "gabata", tigela, escudela. Em português passou a designar a caixa sem tampa que enfiamos nas mesas. Em sentido metafórico, é um dos sinônimos para prostituta. A frequência com que uma gaveta é aberta e fechada lembraria o ofício da profissional do sexo. Mas nesta gaveta - esta na qual te engavetei, onde te guardo com o passado - não há mais tempo para sexo, para abrir e fechar as pernas, para fechar os olhos e gozar. Esta gaveta eu tranquei. E a chave... joguei fora. Te encerrei no arquivo de ferro, no baú, na geladeira, na mala, no cofre, na mesa do escritório, no guarda-roupa, na caixa-preta. O tempo flui. Não faz sentido investigar os registros do último vôo. Prossigo novamente, nova mente, mãos vazias, sem lágrimas.

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